quinta-feira, 16 de julho de 2009

Salve Jorge! (Encontro em 2 tempos)


Jorge Amado I

Eu, 19 anos, estudante de comunicação, Capitães da Areia nas mãos. Assistia uma palestra de Jorge Amado, numa Bienal de Literatura em São Paulo, com o coração na boca, nervosa ensaiando a cena: “me dá um autógrafo!”. Esforço sobre humano, considerando-se a minha natureza anti social... Mas consegui! Voltei pra casa tarde da noite, num ônibus lotado, livro colado no peito, gentilmente autografado por um senhor de cabelos brancos, sábio, genial... Que sensação!

Jorge Amado II

Eu, 38 anos, produtora de TV, carregando fichas com sugestões de perguntas, fitas Betacam, cronômetro... Esperava a hora em que aconteceria a gravação de uma entrevista com Zélia Gattai, lá no Rio Vermelho. O equipamento era armado e regulado, enquanto eu percorria aquele terreno apinhado de árvores de toda espécie. Era o jardim da casa de Jorge Amado! Parei para acariciar um cachorro de pele enrugada (se não me engano, um pug), quando ouvi uma recomendação dada por Zélia: “Por favor, não ultrapassem aquele portão, porque lá descansa Jorge.” (Ele estava muito doente, tinha perdido a lucidez e morreria dias depois). Jamais ousaria transpor aquele portão, nem por um furo de reportagem, nem pela vontade de estar perto de quem um dia me fez vencer um mundo de timidez.

sábado, 4 de julho de 2009

Cala a boca, Etelvina!



Certo dia, bem por acaso, deparei-me com um filme nacional na TV Cultura... "Cala a boca, Etelvina!". A protagonista era a ainda não centenária Dercy Gonçalves... Desbocada como ela só, aprontando todas e soltando umas preciosidades em preto e branco, do tipo "Vamos tomar um suco de vaca!". Pois bem! O filme não tinha nada de tão memorável assim, mas uma coisa nunca saiu da minha cabeça: aquele nome tão incomum, singular e porque não dizer esquisito: Etelvina!
Muitos anos se passaram e eu tive que me deslocar uns 3 mil quilômetros de onde morava para ter um encontro: a figura da tela transfigurou-se em um alguém em carne e osso, uma criatura que nem a ficção poderia inventar melhor. A campainha do apartamento tocou e eis que a personagem surge por trás da porta... Ela queria um copo d'água e também a minha ficha completa: de onde venho, quem mora comigo, o que é que eu faço, antecedentes... Foi um longo interrogatório, regado a minúsculos goles de água (a coisa tinha que render). No final uma breve apresentação: "Sou Etelvinha e faço a faxina do prédio todas as quintas!". Na semana seguinte, olha ela lá! Assim que avistei, cumprimentei com alegria: "Dona Etelvina! Bom dia!" E ela cheia de estranheza: "Como é que a senhora lembrou o meu nome?".