terça-feira, 3 de maio de 2011

Reflexões enquanto espero a minha vez

Gostaria de entender a lógica dos que "se acham" - essas criaturas se consideram seres especiais, que vieram ao planeta para desempenhar papéis principais. Os figurantes da vida que se cuidem! Que abram espaço quando o protagonista chega com o seu carro, querendo entrar naquele retorno, onde os outros esperam há uma infinidade pela sua vez.
Filas não são para os que "se acham", nem regras de uma forma geral. O resto deve fazer, eles fazem se quiser! O tempo deles é precioso. Atividades como esperar a sua vez, pedir por favor, dizer obrigado, sorrir, prestar atenção no que os outros dizem é coisa pra coadjuvantes!
Não tenho a mínima disposição pra fazer testes de elenco e tentar um papel mais relevante. Acho muito confortável o ofício de cenógrafa e até interessante fazer uma pontinha aqui e ali! Ser espectador também é bem legal! Tem cada personagem pra gente observar... E os tais que "se acham" são emoção garantida! Em mim provocam a ira constantemente, me fazem xingar, elevar a voz, repetir para quem está ao meu lado o quanto essas pessoas me irritam... E escrever um post assim, meio sem propósito como este!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Magia do tempo

Logo cedo, tomando café, bato o olho no calendário e lembro que mais um novo mês está começando! Adoro virar a folha do calendário! É uma alegria inenarrável! Fico louca quando esqueço de fazer isso cedinho e um aventureiro qualquer rouba esse meu prazer supremo! Talvez toda essa euforia se explique pela curiosidade de ver a mensagem que vem escrita na página. Há décadas minha mãe me presenteia com calendários com mensagens. Ano a ano, é presente de natal obrigatório. Ela encomenda previamente para que não falte! Quando abro o pacote, tomo o cuidado de não folhear o calendário para não estragar a surpresa contida nas mensagens. Elas têm que ser lidas no mês exato, no dia primeiro! Às vezes elas me vêm como avisos e conselhos e servem para dar um norte aos dias que seguem.
Mas, pensando bem, não só as mensagens me motivam. Também gosto do passar do tempo... Fim do dia, fim do mês, fim do ano... Festas, natal... e olha aí mais um calendário chegando!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Show de Claudia

Não lembro bem que idade tinha quando comecei a acreditar que toda a minha vida era uma farsa, uma espécie de teatrinho, onde só eu não tinha acesso ao roteiro.
Achava que todos ao meu redor diziam suas falas previamente ensaiadas e, quando saiam do ambiente em que eu estava, desfaziam as suas expressões. Quem estava sorrindo, fechava a cara e, vez ou outra, comentava: "Que peça mais chata essa aqui!".
Até que era uma fantasia interessante. Interessante, mas ao mesmo tempo sombria. Só eu sei as expressões sinistras que imaginava para os "atores" quando não estavam contracenando comigo! Desconfiava de tudo e de todos até que, com o passar dos anos, cheguei à conclusão que não valia a pena que se mobilizasse um elenco tão numeroso e complexo para compor este meu reality show.
Só sei que passaram décadas e não sei precisar exatamente em que momento de minha vida essa fantasia começou novamente a fazer sentido...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Preguiça Social - Uma tese!

Imagine alguém que define seu status sempre e irremediavelmente como "invisível"... Em dias bons, a criatura se arrisca e, quem a enxerga no world wide web, a vê como "ausente" ou "ocupada". Essa mesma pessoa resolve criar um blog, mas, veja só: posta uns dois textos e nunca mais...
Que tipo de gente é esta? Que mal a acomete?
Tem um termo que surgiu espontaneamente na minha cabeça, o qual até um dia desses achei que tinha inventado: "Preguiça Social".
Preguiça Social - substantivo que define a atitude de quem até gosta de estar entre os seres humanos, mas é dominado por uma força superior, implacável, irresistível, invencível...
Pra falar a verdade, Preguiça Social é mais que um termo, é uma entidade, uma coisa gorda, bem alimentada por junk food, que está conectada a canais de TV por assinatura e inteirada, muito bem inteirada, sobre tudo o que acontece com as celebridades... Mas e a família? E os amigos? Essas pessoas surgem nos sonhos e nos lapsos de memória de quem é dominado pela P.S., e, quando o infectado tenta teclar um e-mail ou digitar um número de telefone que não seja o do entregador de pizza, uma força maior o dissuade da ideia...
É com esse texto quase científico que tento reiniciar o meu blog. Caso não consiga postar mais nada nos próximos meses, não precisarei apresentar desculpas nem maiores explicações...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Salve Jorge! (Encontro em 2 tempos)


Jorge Amado I

Eu, 19 anos, estudante de comunicação, Capitães da Areia nas mãos. Assistia uma palestra de Jorge Amado, numa Bienal de Literatura em São Paulo, com o coração na boca, nervosa ensaiando a cena: “me dá um autógrafo!”. Esforço sobre humano, considerando-se a minha natureza anti social... Mas consegui! Voltei pra casa tarde da noite, num ônibus lotado, livro colado no peito, gentilmente autografado por um senhor de cabelos brancos, sábio, genial... Que sensação!

Jorge Amado II

Eu, 38 anos, produtora de TV, carregando fichas com sugestões de perguntas, fitas Betacam, cronômetro... Esperava a hora em que aconteceria a gravação de uma entrevista com Zélia Gattai, lá no Rio Vermelho. O equipamento era armado e regulado, enquanto eu percorria aquele terreno apinhado de árvores de toda espécie. Era o jardim da casa de Jorge Amado! Parei para acariciar um cachorro de pele enrugada (se não me engano, um pug), quando ouvi uma recomendação dada por Zélia: “Por favor, não ultrapassem aquele portão, porque lá descansa Jorge.” (Ele estava muito doente, tinha perdido a lucidez e morreria dias depois). Jamais ousaria transpor aquele portão, nem por um furo de reportagem, nem pela vontade de estar perto de quem um dia me fez vencer um mundo de timidez.

sábado, 4 de julho de 2009

Cala a boca, Etelvina!



Certo dia, bem por acaso, deparei-me com um filme nacional na TV Cultura... "Cala a boca, Etelvina!". A protagonista era a ainda não centenária Dercy Gonçalves... Desbocada como ela só, aprontando todas e soltando umas preciosidades em preto e branco, do tipo "Vamos tomar um suco de vaca!". Pois bem! O filme não tinha nada de tão memorável assim, mas uma coisa nunca saiu da minha cabeça: aquele nome tão incomum, singular e porque não dizer esquisito: Etelvina!
Muitos anos se passaram e eu tive que me deslocar uns 3 mil quilômetros de onde morava para ter um encontro: a figura da tela transfigurou-se em um alguém em carne e osso, uma criatura que nem a ficção poderia inventar melhor. A campainha do apartamento tocou e eis que a personagem surge por trás da porta... Ela queria um copo d'água e também a minha ficha completa: de onde venho, quem mora comigo, o que é que eu faço, antecedentes... Foi um longo interrogatório, regado a minúsculos goles de água (a coisa tinha que render). No final uma breve apresentação: "Sou Etelvinha e faço a faxina do prédio todas as quintas!". Na semana seguinte, olha ela lá! Assim que avistei, cumprimentei com alegria: "Dona Etelvina! Bom dia!" E ela cheia de estranheza: "Como é que a senhora lembrou o meu nome?".